Parece que nos cortam a comunicação rápida e fácil, e nos cortam a vida.
A verdade é que, durante anos, os nossos avós (e talvez até os nossos pais) viviam assim. Com esperança. Esperança de receber uma carta, de acariciar a letra à mão, de abraçar um corpo que já não sente há muito tempo.
E viviam.
Parece que nós não sabemos viver assim.
Está tudo bem. O nosso mundo é diferente do deles e ensinou-nos a ter outras dependências, mas também outras esperanças. Pelo menos eu ainda tenho.
Conto-vos uma pequena história que aconteceu no dia do apagão.
Saí para compra água engarrafada (em caso de urgência para a comida do bebé). Tive que pedir dinheiro à minha mãe (uma miragem das mesadas da adolescência) porque sou utilizadora frequente das tecnologias que me facilitam o método de pagamento, e por isso nem uma moeda tinha na carteira. Erro meu, eu sei.
A mercearia abriu às 16h. Eram 16h10 e estava cheia. Águas, pães, atum, salchichas, até batatas fritas e um pouco de pânico, enchiam os sacos que por aquela porta passavam. Fui buscar uma garrafa de uma marca aleatória e, por sua vez, era a última. Uma senhora logo atrás de mim ia tirar a outra marca disponível e disse que não bebia dessa, não gostava. Entreguei-lhe a minha garrafa e fui buscar a que não lhe agradava. Agradeceu-me e eu sorri-lhe.
Mas a minha cabeça, parada naquela fila, só pensava: Se realmente, fosse uma situação de emergência ou sobrevivência extrema, de que me servia ser seletiva na marca da minha água, se o que queria era matar a sede?
Pode ser dúbia esta pergunta, pode até ser provocadora, mas é sincera.
Para além de que, todas as pessoas à nossa frente levavam 3 e 4 garrafas de água com elas que, em caso extremo, poderiam ser distribuídas para dar por todos os que foram à procura de uma e saíram com um sumo para ver se matava a sede da mesma maneira.
Se acho que antigamente era melhor? Não.
Se acho que antigamente havia muita esperança? Sim, não tinham como não a ter.
Se acho que antigamente havia mais empatia? Não sei, mas acredito que hoje devia haver mais.
Se acho que o “antigamente”, chega a ser 2020, em plena pandemia? Sim, e devíamos ter aprendido mais coisas com isso.
Espero que estejam bem, e que o apagão não tenha passado de um susto. Que tenha dado para viver um dia no antigamente, rodeado de pessoas para conversar, livros para ler, bebés para dar colo ou outra forma maravilhosa de estar presente no momento.
Pelo sim pelo não, vou comprar um rádio e começar a escrever cartas. Nunca se sabe o que o amanhã nos reserva. Mas digo-vos que serei feliz a dançar com o meu bebé ao som da frequência e a escrever à mão.
Recomendações:
Livros 📚
Primeiro que tudo, devo admitir que me rendi ao Kobo. Não esperava que fosse gostar tanto, mas a verdade é que a praticidade é o elemento vencedor. E claro, o investimento monetário em livros físicos (ainda assim, sei que vou continuar a comprá-los, gosto demasiado deles).
O livro que gostaria que os seus pais tivessem lido, de Philippa Perry - Muito ouvi falar e muita curiosidade tinha de o ler. Comecei e estou a gostar bastante. Não é um manual de parentalidade, mas ajuda-nos a desconstruir e humanizar os nossos medos e frustrações em tentarmos ser os pais perfeitos. Até ver, recomendo vivamente.
Séries | Filmes 🎬
You (Netflix) - 5ª temporada e final. Na minha opinião, não poderia ter melhor desfecho e melhor reflexão. Toda esta temporada foi uma ânsia. Não parava sossegada no sofá, nem conseguia descolar os olhos da televisão de tantos twists que dava a cada final de episódio. Algo que me fascina: o conjunto perfeito entre as vozes dos subconscientes e as pausas até à próxima fala.
Com amor,
Ana Catarina Rodrigues
Estou ansiosa por ver You!! Excelente reflexão ☺️